Coisas De Garota E Cia

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Esse texto foi retirado do site Engenharia É Foda, e foi escrito por uma leitora de lá que não quis se identificar. Achei muito interessante, porque tenho algumas amigas que gostariam de ser engenheiras, mas não querem arriscar por medo do preconceito. As poucas mulheres nos cursos de exatas não são uma prova que as mulheres são piores que os homens, mas sim que desde pequenas dizem pra elas que meninas só podem fazer algumas coisas e meninos outras.

É grande a dificuldade de namoro quando uma mulher entra em um curso de engenharia a não ser que o seu namorado seja da sua turma. Tiro por mim mesma: namorava um cara faziam alguns anos, e faz uns meses que terminei com ele, e um dos motivos é que ele dizia que meus amigos agora eram só homens. Penso que ele queria que eu dissesse: “Talvez tenha me enganado, talvez meu lugar não seja aqui…”. Enganado estava ele, porque gosto tanto do meu curso que larguei outro curso na área de humanas em outra faculdade pra me dedicar cada vez mais à engenharia.

Essa mania de calcular não sei de onde vem. Acaba fazendo parte da gente, a gente pensa assim. Tudo é contadinho, sabe, aquele chope, aquela balada que você vai pagar, até as relações a gente acaba somando e diminuindo. Eu não sei, mas na nossa própria vida a gente acaba pensando matematicamente; a gente resolve problemas, a gente gosta disso, nós achamos isso difícil, mas optamos por isso e isso acaba fazendo parte da gente mesmo, tudo é número, tudo é Engenharia. Tudo isso só vem fortalecendo a certeza que tenho de que meu curso é esse. É assim que uma mulher trabalhando no mundo da engenharia às vezes é levada a se sentir. Tendo sido quase que exclusivamente desenvolvida por homens, e infelizmente isso fez com que a integração da mulher se tornasse um tanto difícil. Apesar de nossa fascinação e amor pela tecnologia, nós, como engenheiros(as) e estudantes de engenharia não somos máquinas e sim seres humanos. Uma vez que tenhamos aceitado isso, podemos examinar certas questões tidas como importantes pelas mulheres estudantes de engenharia.

Sim, continuando. A vida das mulheres na engenharia também não é tão complicada assim quanto parece, ao menos na faculdade na qual eu curso, não. As meninas da sala, em número bastante reduzido se integram de forma perfeita com todos os meninos. Sempre tem aqueles meninos metidos a engraçadinhos pro nosso lado, mas isso a gente dá um jeito e releva.

Voltando à dificuldade de arranjar namorado, essa é tão grande fora da turma, que uma de nossas coleguinhas abriu o coração e atualmente namora com um cara lá da sala. Ah, acho isso super bacana, assim o preconceito, que ainda existe, torna-se menor. Acho que pelos dois vivenciarem quase o mesmo ritmo, com os mesmo professores, precisando de um 7 pra passar, vivendo cálculo, reprovação, traumas, noites estudando… acabam se atraindo. Aliás, numa sala com uns 30 estudantes, onde a maioria é de homens, eu tenho muitas possibilidades de namorar um engenheiro. O que é mais intrigante ainda é que se o menino faz engenharia, ele curte mais ainda as meninas que fazem engenharia, porque acham elas bastante “corajosas”. Ao menos, é isso que percebo. Aquela velha história que engenharia é uma coisa meio masculinizada, o engenheiro tem que ser aquele cara barbudo, alto, vai falar pra caramba, fala grosso. E as mulheres agora que estão descobrindo “não, Engenharia é legal, também posso fazer”. Mas é uma coisa engraçada, tão poucas mulheres na Engenharia, aí tu vai lá pra Nutrição, aquele monte de mulher, tem um homem escondido, “quem é você rapaz, tá fazendo o quê aí?”, aí dizem que o cara é gay! Como assim? Porque mulher engenheira tem dificuldade pra arranja namorado, e o cara nutricionista é gay? E ainda há aquele forte preconceito relacionado à imagem das futuras engenheiras como mal-amadas, solteironas convictas e anti-sociais. Que absurdo! Porque não nunca nos viram dentro das nossas universidades. Eu, ao menos, me acho atraente e super social. Eu lembro de um comercial da Barbie que quando, ao ganhar voz, saiu dizendo que: “aula de matemática é difícil”. Isto certamente influenciou algumas meninas que brincam de Barbie. Atualmente esta boneca representa um símbolo de hiperfeminilidade: “Barbie; tudo que você quer ser”. Outro absurdo! A gente até se veste como a Barbie, a gente se arruma como a Barbie, mas ser a Barbie?! Tá é doido. Nós queremos usar nossa cabeça pra pensar e não pra por uma coroa, queremos ser engenheiras. Vai ver que pode ser por isso que temos dificuldades de arranjarmos namorados, eles querem barbies… mas sem cérebro.

Sim, outra coisa que pode ser considerado legal quando uma mulher entra na engenharia são as intimidades que a gente pega com os meninos. No começo, no iniciozinho do 1º semestre eu lembro que quando eu e uma amiga minha lá da sala a gente queria emprestar um absorvente, a
gente fazia escondendo dos meninos. Agora? Agora, é melhor nem comentar, se duvidar eles usam também. E os tapinhas nas costas? A gente leva também. Do começo pra cá a gente absorveu tantas coisas dos meninos, que acho que nada se iguala a isso, mas o que é melhor a gente não perde nossa feminilidade, todos os futuros engenheiros nos tratam com um enorme carinho, nos escutam, e assim é bem mais fácil esse número reduzido de mulheres convencerem eles a fazer algo do que eles nos convencerem. Tem horas que nós mulheres nos sentimos grandes, bem grandes, isso nos fortalece mais ainda no curso. E o futebol? Ah, nós aprendemos a jogar, sem falar no CS que aprendemos também.

Outra coisa que é legal também é a mistura de “papo de homem” e “papo de mulher”. O “papo de mulher”, é mais a assuntos amorosos, domésticos e de beleza estética. Já o “papo de homem” é sobre futebol, quantas pegou nesse fim-de-semana… Mas na engenharia acaba que se compartilha de “papo de mulher” e de “papo de homem”, aí acabamos conversando temas como futebol, política, lazeres ou assuntos relacionados ao curso, e todo mundo fica feliz. É engraçado quando a gente vai lá nos meninos e pede alguma opinião sobre algo de mulher aí eles pegam e dizem: “não tem gay aqui não menina”. Tem vez que eles pegam e falam palavrões, ai isso é meio chato, mas a gente acaba se acostumando.

É engraçado quando se juntam pra ver coisas pornôs na internet, aí a gente é obrigada a sair! Eu acho que nós, mulheres estudantes de engenharia, temos que construir um filtro. Assim, às vezes filtrar mesmo. Filtrar algumas coisas machistas que você ouve, você não pode ficar se orientando, guiando-se, pensando no que seria ser mulher pelos fatos que você ouve de seus colegas. Eu acho, porque quando eu estou conversando com algumas colegas minhas , eu me sinto sim… realmente eu tenho minha vida, eu sou mulher, tenho a minha feminilidade, as minhas relações e tal. Ah, sabe de uma coisa, acho que vou atrás de um namorado na engenharia, assim ele pode me valorizar mais, e sofrer estudando junto comigo… OU NÃO!

Engenheira!

Sabe quando você sonha com uma coisa, e sonha tanto que acha que essa coisa nunca vai deixar de ser um sonho? É assim comigo e o ITA. Não vou dizer que desde pequena eu sonhava em ir pro ITA, nem nada disso, porque não foi o que aconteceu. Mas eu sempre gostei de matemática e exatas.

Quando tinha uns 7, 8 anos, aquela idade em que nossos pais são nossos heróis, eu quis ser engenheira elétrica, assim como meu pai. Mas minha mãe falou que essa era uma profissão de homem, e disse pra eu procurar uma profissão mais… feminina. Como naquela época eu obedecia tudo que meus pais diziam, comecei a procurar uma profissão mais feminina. Meu pai falou para minha mãe me deixar ser o que eu quisesse ser, mas o estrago já tinha sido feito. Assim, eu passei os anos seguintes indecisa, querendo uma coisa a cada seis meses: médica, bailarina, professora, estilista, dona de agência de turismo…

Eu sabia que era indecisa, mas não tinha problema, afinal, eu não precisava decidir ainda. Então, chegou 2010. Eu entrei no primeiro ano. A única coisa que os professores falavam – além da matéria, claro – é o PAS e o vestibular. Percebi que já estava chegando a hora de decidir, mas estranhamente, não me sentia pressionada, como se tivesse hora marcada – apesar de ter. Eu queria ser diplomata. Eu faria relações internacionais na UnB, prestaria o concurso do Instituto Rio Branco, viajaria o mundo representando o Brasil e seria feliz para sempre. É, eu sei que soa meio conto de fadas, mas eu nunca gostei de planejar especificamente mais que alguns anos à frente, porque descobri bem cedo que desilusões podem destruir pessoas. Quando o meio do ano apareceu, meu pai conversou comigo sobre isso. Antes, não importava muito o que eu queria fazer, porque apesar de na época eu achar que quereria aquilo para sempre, meus pais sabiam que eu mudaria de ideia de acordo com meu amadurecimento. Agora, a coisa era pra valer.

“Você quer fazer relações internacionais ou quer ser diplomata?” ele perguntou. A pergunta me confundiu. Sabia que não era necessário fazer relações internacionais para prestar o Concurso de Admissão À Carreira Diplomática, mas achava que os melhores diplomatas o cursavam. “Quero ser diplomata. Por que?” respondi. “O curso de R.I. é muito vazio. Converse com sua prima e algumas outras pessoas que se formaram em R.I. para ter uma ideia, mas é basicamente o que você aprendeu na escola. Você sabe como é a vida de um diplomata? Sempre se mudando, nunca com uma moradia fixa. Você realmente quer isso?” concordei. “Mas e se acontecer tudo do jeito que você quer, e quando você chegar lá descobrir que não é do jeito que você imagina que é? Você vai ter desperdiçado todos esses anos. Pense bem sobre o que você quer fazer na faculdade, porque isso vai afetar um bom pedaço da sua vida. Talvez seja melhor você escolher fazer na faculdade seu plano B (meu plano A é o que eu falei lá em cima, do viver feliz para sempre) de modo que se a diplomacia não corresponder às suas expectativas, você terá uma profissão.” Eu tenho que dizer que amo isso nos meus pais: eles nunca fizeram uma escolha que era minha por mim. Eles mostram as opções e deixam que eu faça isso sozinha.

O que ele me disse ficou martelando minha cabeça por um bom tempo. E se? Eu odeio essa pergunta. Eu odeio não saber. Odeio ficar na expectativa. Elaborei melhor meu plano B, que na época, só dizia assim: Arquitetura e/ou Engenharia. Qual engenharia eu queria? Só faculdades nacionais, ou me arriscaria em outras fora do país? Quais vestibulares eu tentaria? Quanto tempo eu estava disposta a estudar? Se minhas escolhas me fizessem mudar de escola, eu ainda me manteria firme nelas? Acabei chegando à conclusão que queria passar no ITA, e que faria tudo para conseguir, independentemente das consequências.

Apesar das minhas notas em matemática, química, português e inglês (únicas matérias cobradas no vestibular do ITA, além de física) estarem ótimas, minhas notas em física eram pouco acima da média. No início do segundo semestre, eu tirei 5,5/10 com média seis. Não tive coragem de contar pessoalmente, então mandei uma mensagem tanto pro meu pai quanto pra minha mãe falando da nota. Até hoje não sei se minha mãe chegou a ver a mensagem, mas a resposta que recebi do meu pai foi tão fria e bruta quanto verdadeira:

Como você quer fazer a prova do ITA se nem consegue média na escola?

Aquele tipo de comentário maldoso que as pessoas fazem casualmente, mas que eu nunca esperei dele. Me atingiu mais do que ele deve ter pensado. Nada como um desafio ou alguém que me subestima para me fazer mostrar que a pessoa estava errada. Nas duas provas seguintes, minha nota aumentou, e eu fechei o ano com média 9,1 em física. Uma pequena conquista que me deixou mais feliz do que esperava. No entanto, o ITA ainda era sonho nebuloso. Eu comecei a estudar pro PAS duas semanas antes, e de acordo com o gabarito preliminar, tive uma boa nota, mas isso era duvidoso demais.

Durante toda essa última semana, eu pesquisava sobre o ITA, cursinhos preparatórios, provas anteriores… Mas tudo como pura curiosidade, algo que eu poderia fazer depois. Até que hoje cheguei em um site chamado Rumo Ao ITA. Lá, vi o depoimento de diversas pessoas aprovadas no ITA e no IME, e então percebi que se eu realmente quisesse passar no ITA – e de primeira – eu ia ter que fazer mais do que eu fiz todo esse ano. Teria que estudar horas, fazer muitos exercícios, abdicar um pouco da vida social, fazer escolhas que possivelmente me fariam enveredar por caminhos mais difíceis.  Eu realmente estou disposta a isso? Me perguntei, não pela primeira vez. Imaginei como seria… Estudar na melhor faculdade de engenharia do Brasil e uma das melhores do mundo.

Estar entre a elite cultural do país.

Saber que aquilo que eu queria, que eu realmente queria… eu consegui.

Sim, valia a pena.


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